Tecnologia e Manobra Social

Há uma confusão, que não sei ao certo se parte da ameaça do novo, ou da perda do poder retórico, especialmente entre juristas.

Algum tempo atrás, o advogado que migrava para soluções de tecnologia era visto como um profissional “sem-valor” ou desprovido de cultura jurídica que o tornasse bem sucedido na profissão e tarefas tradicionais.

Mas essa história vem mudando, não somente pelo esforço dos colegas, mas especialmente porque vivenciamos um tempo de sociedade em rede (CASTELLS, 2006). E essa sociedade tem também os seus problemas, a falácia do tudo é possível.

De 2014 para cá, eu vi migrações oportunistas, arrogância introjetada em experiências superficiais sobre o uso da tecnologia, muito aplicativo bom e muito aplicativo ruim; muito diálogo bom, liberalismo econômico opressor de grandes massas e lucratividade sob ideais opressores de acordos online, adoção de metodologia econômica impensável num país de contrastes e há quem tenha inventado muita coisa boa sem preocupar-se com o uso desmedido num Estado de Direito fragilizado por tamanha instabilidade jurídica.

O diálogo do “hype” é sedutor, mas insustentável. E não é que os conservadores não queiram a ciência da tecnologia presente em suas vidas; é que não avalizam discursos de vaidades e facilidades.

O ano é 2020 e fico preocupado em comunicar profundidade de conhecimento entre direito e tecnologia, porque poucos são os que desejam ouvir e a escassez e material acadêmico me parece um problema.

É por isso que não chamo isso de artigo. É texto livre.

Retornando, para o jurista, a tecnologia é um mero facilitador das tarefas que ele não quer produzir em seu cotidiano. Em parte, é isso mesmo – mas de outro lado, há um saboroso universo de conhecimento, especialmente quanto a regulação do próprio espaço virtual.

Não há mais aquela internet que antigamente era um repositório de informações e consumíamos como um livro eletrônico, uma “barsa virtual”.

Hoje, além dos dilemas das duas cadeiras, preocupa-me a sociedade idiotizada. Esta que executa comandos em programas de computador, utiliza aplicativos para governar o seu caminho no trânsito e comprar comida, vestuário – mas não se ressente do legado que deixará aos filhos, sobrinhos e a geração vindoura, uma geração que não consegue ter espaço à reflexão própria, àquela angustiante do estar em solitude, a que é parte da natureza do ser humano.

Não é responsabilidade apenas dos professores; dos profissionais que dialogam no espaço entre tecnologia; mas da sociedade. Ao mesmo tempo em que busco a suavização da vida em sociedade, algum estímulo deve ser dado.

Noutro dia, disseram que inteligência artificial substituiria advogados. Discordei. Espancaram minhas palavras com ódio intrínseco de quem tem interesse comercial numa venda falaciosa.

A verdade é que a tecnologia virou arma de poder de alguns grupos e disseminar conhecimento contrário é a melhor venda, embora o real conhecimento aprendido estão na boca e nas mãos de quem não brilha nas redes sociais (eu conheço uma porção de gente muito capacitada).

Sim, as tarefas serão substituídas e os advogados farão transposições, é inegável.

Evidentemente, os juristas continuarão a defender o estado de direito, a democracia e relações jurígenas em geral em um ambiente híbrido e interativo como é a nova internet e as novas tecnologias.

Não se pode concordar que uma máquina, por mais evoluída que seja, furtará o livre pensamento, àquele que é destinado a cobrir problemas impensáveis. O livre pensamento é intrínseco ao homem.

Eu concordo que os juristas, sem tanto desejo de conhecimento, ou acomodados aos serviços tradicionais, sofrerão prejuízo. Nenhuma novidade mora nesta frase, à medida que este comportamento é substituído por impulso de aprender e resolver; a diferença será que a a tecnologia ocupará o espaço e não um outro profissional, e só.

Concluindo, nesta seara entre tecnologia e direito, embora seja apenas um dos poucos que não contam milagres ou soluções fantásticas (elas não existem), reescrevo ERICH FROM (A revolução da esperança), cujo discurso permanece atual, frente a idiotização social, por meio da tecnologia:

“Diria que a revolução tecnológica ajudou a preencher e tornar mais superficial a vida interior do homem. Se você andar com um rádio ligado em sua orelha, está resolvido o problema do pensamento interior, da contemplação, enquanto você caminha. Simplesmente não há lugar para eles. Sua vida, a vida interior foi deslocada, exteriorizada e trivializada, e penso que isto seja um exemplo do que a tecnologia pode fazer. Neste sentido, é um instrumento muito revolucionário. Não deixa o homem sozinho em sua profundidade (…). Este tipo vazio de homem pode certamente existir; a sociedade de homens vazios pode ser concebida e poder ser bastante bem organizada.”

Qualquer um pode inventar meios técnicos de impressionar. Nem todos saberão. Mas a você, que acompanhou este texto, espero que a reflexão seja o repensar direito e tecnologia, como um vetor de melhorias operacionais e até técnicas; sem olvidar de que ao melhorar o meio é necessário promover continuamente a intelectualidade. Sem pensadores, a sociedade nasce, cresce e se reproduz de forma morta, cujo sopro é inócuo, irrelevante e publica um cenário de analfabetos funcionais.

Do my homework before you pay someone to do my essay.